Meu medo

As últimas semanas foram um tanto intensas pra mim. Recebi informações demais e tive de absorvê-las como quem come pipoca no cinema: no automático. O principal de tudo foi quando eu senti que o maior medo que tenho na vida acontecesse: ficar sem minha mãe. Dona Inês já não é mais a mesma, a idade chegou, ela não cuidou da alimentação, da saúde e agora o corpo quer prestar contas.

Estava eu, levando meus sogros pra conhecer a minha cerimonialista do casamento, pra verem a igreja e o salão quando minha mãe ligou dizendo que estava passando mal e a pressão estava muito alta, mas que "tudo bem". Ela só ligou pra dizer que se acontecesse algo a ela, não era para eu me preocupar. Engoli o choro na igreja e pelo telefone ouvi minha irmã chegar em casa pra ficar com ela.

Minha tensão aumentou porque dois dias antes soube que meu tio havia falecido por causa de um avc. Meu tio que não fumava, não bebia e era da idade da minha mãe.

No dia seguinte minha mãe voltou a passar mal e foi ao hospital. Não vou dizer aqui o que os médicos falaram, mas sei que quero cuidar dela até onde eu puder. Ela passou uns dias fora, fazendo exames em outra cidade e eu agoniada a cada vez que minha irmã avisava que a pressão dela aumentava.

Sabe, meu tio morreu de avc. Ricardo Gomes teve um avc. Os telejornais só falam de avc. E eu aqui com medo. Medo bobo, porque a única certeza que temos é que todos vamos morrer mesmo. Mas é a minha mãe.

Não tem ninguém no mundo como a nossa mãe. Ainda mais ela que foi pai e mãe pra mim. Eu fico toda hora ligando, indo até ela saber se tudo tá bem e sei que meus irmãos estão todos do mesmo jeito. Cada dia é uma alegria ter ela por aqui e tudo o que mais tenho pedido toda noite é que ela não me deixe ainda, porque eu não tô preparada. Poxa vida, ainda tenho tantas alegrias pra dar pra ela e falta tão pouco pra, pelo menos, duas coisas boas acontecerem. Quero dividir com ela as minhas conquistas.

Agora só quero poder ficar ao lado dela, como quando eu era criança, e ficar por ali porque era o porto mais seguro que eu tinha. E ainda tenho.

Chegou o ponto da vida em que os filhos cuidam dos pais e eu nunca imaginaria o quão triste isso seria. Quando os pais cuidam dos filhos, foi porque eles chegaram. Quando os filhos cuidam dos pais, é porque está na hora deles partirem.

E isso me dói muito.

Não há melhor lugar/pessoa do que nossa mãe.