setembro 05, 2012

Assédio sexual, moral, verbal e machismo

Pensei muito se deveria ou não escrever o que aconteceu comigo hoje aqui e decidi que o assunto deve ser colocado na roda. Muita gente pode ter ou estar passando pelo o que eu passei e também pode vir a passar. Então, fica junto com o meu desabafo algumas dicas.

Estava ainda há pouco voltando para casa, depois de um dia de trabalho, como faço todos os dias: pego o mesmo ônibus e em no máximo 20 minutos estou em casa. Só que hoje, na tranquilidade da minha viagem fui perturbada por um ser.

Me sento no banco do corredor desde uma série de assaltos e estupros que assolou aqui no Rio há uns anos atrás. Por a mulher ficar no canto, ameaças eram feitas, pertences eram roubados sem que ninguém do ônibus percebesse.

E assim, sentada no banco alto na parte de trás do ônibus (a porta de saída fica atrás) e com pessoas em volta fui assediada verbalmente/ sexualmente. Não entendo desses termos, mas sei que me senti violentada pelos ouvidos.

Primeiro: em um ponto de ônibus o rapaz pediu para entrar pela porta de trás. O motorista abriu e deixou que ele entrasse de graça. Eu cheguei a olhar pela janela, já que ele insistiu muito para que abrisse, batendo no veículo até. Pois então esse ser, que nem pagar passagem pagou, foi até a frente do ônibus, foi lá pra trás (onde os bancos são encostados na traseira do ônibus mesmo) e voltou me olhando. Pelo olhar dele eu senti que era merda. Estava vestido como rapaz comum, ou seja, fora do estereótipo que muita gente já julgaria como bandido. Só que comigo não tem essa. Pode estar de terno, se eu sentir que cheira a merda, ligo o desconfiômetro.

Já passei por assalto à ônibus e sei que é bem essa a atitude que eles fazem: olham todos no ônibus e depois voltam observando possíveis alvos.

O rapaz moreno, com roupa esportiva (bermuda e blusa de microfibra) estava de óculos e tênis. Assim que passou me olhando e senti a merda, percebi que boa coisa não vinha ali. Desde pequena sinto a energia das pessoas e nunca me enganei.

O fdp se levantou, voltou e parou na minha frente e começou a dizer diversos absurdos me chamando de gostosa, delícia, que queria me comer, que eu deveria ser muito boa na cama e coisas mais. Só que quem me conhece sabe que eu não levo desaforo pra casa, não mais. E ainda me pegou em uma semana tensa, então já viu.



Falei bem alto: - eu hein, me respeita!

Atraí diversos olhares que nada fizeram. E meu grito pareceu não incomodá-lo, já que ele foi pra trás do ônibus e de lá falou outras muitas gracinhas pra mim. Havia dois homens ao meu lado, em outros bancos. Um na janela, e outro no corredor. Nada fizeram. Na minha frente, também no corredor, uma senhorinha que ainda tava tentando entender o que se passava. Eu tremia de raiva e minha cara ficou vermelha a ponto de explodir.

Talvez se ele voltasse eu teria dado mais xilique e piti no ônibus. Ficava me perguntando se acontecesse alguma coisa comigo, se ele me rebocasse pro fundo do ônibus quem seria o responsável? E se ele me assaltasse? O motorista deixou que ele entrasse. E porque deixou? Era conivente? Já conhecia o rapaz? 

Porque aqui no Rio os motoristas abrem a porta de trás pros idosos e deficientes entrarem, sendo que logo ali na frente, antes da roleta existem quatro bancos disponíveis pra eles e muitas vezes ainda estão vazios quando abrem a porta de trás.

Me senti invadida, abusada ainda que só com palavras. Meu primeiro pensamento foi machista. Pensei: -mas eu não tô vestida de nenhuma maneira que possa chamar a atenção, não tô com decote e nada justo. Mas na hora repensei: -Porra e mesmo que tivesse, que direitos isso dá? 

E na hora me lembrei de centenas de pessoas que comentavam em blogs e Twitter que se sentiam culpadas por estar vestidas de forma que chamasse atenção e foram estupradas. O erro não está na gente! O erro está na falta de respeito com as mulheres, por achar que elas querem ser assediadas, que são feitas apenas pro uso sexual dos homens.

Liguei pro meu marido, pedi que ele me encontrasse no ponto de ônibus que desço, já que não me sentia nem um pouco segura. E se eu desço e ele vem atrás? E já que moro perto do ponto de ônibus, se ele resolvesse me seguir e assaltar a minha casa?

Para o meu desespero, meu marido não tinha como chegar antes de mim ao ponto. Quando desci nem tive coragem de olhar pros bancos traseiros. Sei que andei rápido assim que desci e nem olhei pro ônibus quando ele partiu. Meu marido chegou minutos depois que entrei em casa. Talvez ele não entenda a gravidade do que passei, já que foi apenas verbal e mais nada aconteceu comigo. Só me pediu calma.

Mas a minha preocupação está nas outras meninas e mulheres que podem ser vítimas dele. E se ele for como aquele cara que estuprou uma menina no fundo do ônibus? E se ele for como o outro que assaltou uma garota que ouvia música distraidamente olhando pela janela? Quantas mulheres são assediadas dessa forma e nada fazem ou acham que a culpa é delas?

Penso que se eu tivesse sentada na janela, ele poderia fazer algo. E não me fiz de coitada, eu peitei ele. Há meninas que abaixam a cabeça ou outras (como já vi muito nesse mesmo ônibus) que dão confiança pra essas coisas que costumam chamar de cantada. Mas isso não é cantada!!

Já vi meninas de 14 a 17 anos dando trela pra outros meninos que ficam assediando elas no ônibus com "elogios". Óbvil que o que eles disseram não é nada do que ouvi hoje, mas ficam no "bonitinha, beijaria muito". Nojo.

Estou tentando entrar em contato com a Rio Ônibus para que nunca mais permitam que pessoas entrem pela porta traseira. Que espere o idoso passar a roleta e se sentar antes de arrancar o ônibus.

Estou tão indignada e furiosa que vocês não podem medir o quanto. Pelo fdp tarado, pelas pessoas que ouviram e nada fizeram, pelo motorista e por vivermos nessa sociedade machista.

Me pergunto até quando? Será que quando minhas sobrinhas crescerem passarão pelo mesmo ou já conseguirão mudar a mentalidade do povo?

NOJO. NOJO. NOJO.




Priscilla
Priscilla

Mãe, esposa, jornalista e dona de casa. Adora cuidar do lar, de música e gatos. Aquela dos olhos coloridos.

22 comentários:

  1. absurdo! absurdo! absurdo!

    vivo pegando ônibus sozinha, pra cima e pra baixo. sempre tenho essa mesma atitude de nunca sentar na janela, como você. mas isso, como você bem disse, dificulta mas não garante nada...

    espero que você esteja bem! :(

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    1. Minha vontade é andar com arma de choque, sabe? Não sou eu que tenho que mudar, são eles. São os pensamentos e atitudes machistas que não devem mais existir.

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  2. Absurdo! Essas coisas acontecem o tempo todo com várias mulheres, isso que me deixa muito assustada. Já aconteceu comigo e com outras que conheço. Espero que esteja bem, que já esteja mais calma e melhor.
    Me incomoda muito a postura dos homens no geral em relação a esses acontecimentos. Normalmente eles agem como se não fosse nada e estivéssemos exagerando, mas nós entendemos como isso machuca, mesmo sendo verbal.
    Essa violência contra a mulher tem que parar!

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    1. A revolta ainda está, mas acho que tô mais calma quanto ao acontecido.

      A culpa é sempre da mulher. E na cabeça deles eu deveria ser culpada por estar sentada, tentando chegar em casa e olhando o celular.

      Esse povo não tem mãe, irmã nem mulher na família? Se colocar no lugar do outro resolveria muita coisa.

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  3. Situações assim são realmente assustadoras. O pior é a sensação de impotência que eu sinto nesses momentos, porque por mais que você peite e fique brava, o desgraçado continua se sentindo no direito de te 'elogiar'. Mais revoltante ainda é todo mundo ver e não fazer nada a respeito.
    Achei ótimo você compartilhar sua experiência aqui, mulheres passam por isso diariamente e todos agem como se fosse 'natural'. Não é natural, é humilhante, revoltante, enjoativo!

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    1. Pois é. E ele deve ter saído do ônibus como o fodão.

      Precisei compartilhar, não por mim...mas o blog é voltado ao público feminino, muitas meninas e mulheres que podem passar por isso.

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  4. É revoltante que absurdos como esse ainda aconteçam. Já passei por isso mais de uma vez mas nunca falei nd por medo de retaliação... Qualquer cantada, n minha cabeça, é nojenta e amoral, não acho que mexa com o ego das mulheres..... uma pena as pessoas não se darem conta disso, e continuarem com a cabeça de bosta achando que a gnt gosta, ou que a gnt provocou ou que a culpa é nossa.
    Ainda bem que vc está bem.
    Bjos

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    1. Obrigada pelo apoio, Ju! É mais revoltante quando as pessoas não enxergam que isso é um erro. Acreditam que podem sair por aí falando e fazendo o que quiserem. Acham que mulher é objeto, que não se deve respeitar as vontades dela e ignoram qualquer outra opinião contrária.

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  5. Eu tenho uma mente mega machista em determinados momentos, mas não nesse. Armo barraco, faço o que achar necessário. Mas infelizmente conheço mulheres que educaram seus filhos dessa maneira, creio que para tentar compensar o que elas mesmas passam/passaram. Não faz sentido e é o que há de mais absurdo. Deve se lembrar da Marcha das Vadias, que começou exatamente por isso: um policial que disse que mulheres eram estupradas devido às suas roupas.
    E já cansei de ouvir meninos dizendo que se suas namoradas fossem estupradas terminariam seus relacionamentos; ou seja, já está mal e ainda perde o apoio.
    Realmente não compreendo...
    Fico feliz de ter reagido! E bom que esteja bem, moça. Também sou do Rio e sei BEM como a coisa tá acontecendo por aqui.
    Beijinho,
    www.dicasdamag.uni5.net

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    1. Pois é, os meninos e homens que temos na sociedade, em sua maioria, não enxergam o machismo e preferem atacar e punir as mulheres do que mudar o que já está errado há muito tempo.

      Obrigada pelo apoio!

      bju

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  6. Nossa, muito chato passar por isso neh? Eu já sofri abuso físico, não passou de um agarrão e uma passada de mão e tbm me senti muito mal por isso, a raiva era tanta, que se eu tivesse algo na mão que pudesse machucar teria feito um estrago! Vc está coberta de razão a culpa não é da mulher é desse mundo que vivemos! Espero que vc fique bem!!!

    Tamiris

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    1. Que chato você tb ter passado por isso!! Minha vontade era de acabar com ele, na base na violência mesmo...

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  7. Você também ficou à esperar por apoio? Crítica a postura da sociedade machista e quer que os homens, aleatóriamente o proteja? Li sua estória e realmente isso foi um abuso, algo que ninguém deveria passar. Acho rídiculo quando homens ficam cantando mulheres no meio da rua, mas a maioria das mulhers amam isso e, a minoria, que detesta isso, tem que passar por situações assim. Mas isso não é culpa de um mundo machista mas sim de um sistema de repressão, montado pelo prórpio paternalismo natural do homem e da liberaçõa sexual que vem ocorrendo nessas últimas décadas.

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    1. Luis, acho que você não leu direito o post, eu me defendi sozinha, não esperei que fizessem isso por mim. Não pedi que ninguém me protegesse, onde você leu isso? A minha revolta estava nos que ouviram e acharam que o que ele fez estava certo, já que trataram com naturalidade. E não digo só pelos homens, como também da senhorinha, que eu vi que se indignou (pela feição), mas se sentiu inferior e preferiu não adotar uma postura. Leia antes de falar que eu queria que me protegesse. Está bem ali quando digo que quem me conhece sabe que não levo desaforo pra casa.

      O homem que eu realmente queria que me protegesse, afinal, me senti insegura sem saber se era um tarado, bandido, drogado...era o meu marido. Afinal, entre ele de seus 1m80 e muitos quilos e eu pequena e magra, ele venceria fácil.

      E pra mim o mundo é machista sim.

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  8. Compartilhar em meu facebook seu desabafo !! Trabalheu na área de violência contra a mulher aqui no Tocantins. Você disse muito bem em relação ao machismo que existe até hoje !! Conte comigo !!

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  9. Comentariozinho infeliz e desnecessário do Luis. A liberação sexual nos países muçulmanos tb deve ser a responsável pelos estupros acontecidos com as mulheres que usam burca...pqp!!!!

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  10. Poxa que chato isso que você passou. Infelizmente hoje a gente tem que implorar respeito, não é por que muitas mulheres se desvalorizam que os homens têm direito de desrespeitar! Tudo começa com educação, e se uma boa parte dos pais agissem como na historinha que você colocou acima, isso seria bastante evitado. É complicado, homens acham que mulheres são indefesas e que não fazem nada quando mexem com elas, mas você agiu certo, eu talvez teria medo justamente por pensar que o cara poderia descer do ônibus e tentar me violentar, ou assaltar a minha casa como você disse. Meu namorado morre de medo quando eu saio sozinha e tem medo de que algo aconteça, até por que Petrópolis não é mais a mesma, mas infelizmente situações como essa podem acontecer a qualquer hora... Parabéns pela sua coragem por ''peitar'' o cara. Tenho nojo desses homens safados.

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  11. Hoje estava descendo uma rua perto do meu bairro pois pego ônibus todo dia para estudar, foi quando um homem dentro de um carro parou para pedir informação, já estranhei afinal tinham comércios abertos e outras pessoas na rua, afinal por que eu? Mas na educação informei o destino, esperei que ele fizesse a curva e prossegui pelo lado oposto, mas comecei a acelerar mais o passo, quando olhei para o lado ele estava me chamando de dentro do carro, estranhei pois o que mais ele queria? então ele perguntou '' tem como subir por aqui?'' e eu respondi ''Não só daquele jeito'', já um tanto furiosa e ele disse ''vai subir? quer carona?'' fechei a cara e disse que não então já estava tão estressada que quase não tive reação quando ele me disse ''Que peitão bonito hein?'', por ser de menor e estar desacompanhada temi e me calei esperei ele ir e corri muito para chegar em casa, chorei e tremi de medo, pois o cara era um pedófilo nojento e traiçoeiro. Cheguei em casa e contei a minha família e eles me aconselharam que ficasse esperta, até agora estou desconcertada pelo o que aconteceu, numa pesquisa cheguei nessa página, e me senti exatamente como você não foi físico mas foi quase tão horrível, temo pelas próximas vítimas, pois fui astuta em ter corrido e não ter me aproximado, e agradeço por nada de pior ter me acontecido. E sei que não tenho culpa, fui educada e não estava imprópria, mesmo que estivesse? que direito esse traste tinha? Imagino essa coisa chegando em casa com um sorriso no rosto, cumprimentando pessoas com aquela consciência nojenta e perversa. Obrigada por ter a coragem de abrir esse tópico que muitas vezes é ignorado.

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    1. Sarah, lamento por você. Isso de informação de motorista também já aconteceu comigo, mas quando percebi que era furada e apenas assédio deixei falando sozinho e entrei no primeiro local que vi. Hoje prefiro passar por mal educada ou surda do que dar a informação. Olha a que ponto chegamos.

      Na rua da casa da minha mãe havia um tarado que fingia que ia pedir informação e depois ameaçava com uma arma a mulher para entrar no carro e estuprar. Me pergunto até quando vamos ser reféns disso.

      Fica bem, viu?
      bj

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  12. Já é o nono ou décimo relato que leio e me identifico, principalmente com a parte "ninguém faz nada pra te ajudar". Hoje tive um ataque de fúria com um cara que tem idade pra ser o meu pai, após ouvir idiotices dele e quem testemunhou a cena ficou em silêncio observando a minha raiva.
    Juro por Deus, sempre que eu ver uma cena dessas, vou partir em defesa da vítima, vou me meter mesmo e tomar partido. A pior sensação é a impressão que você tem de estar lutando sozinha.
    Só não tenho esta certeza porque hoje li vários relatos com o mesmo conteúdo.

    Prefiro devolver a grosseria, mesmo arriscando ser agredida, do que ficar calada.
    Fique com Deus Priscila.
    Você não está sozinha.

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